06/04/2008

Os dispostos se atraem

Tu e eu (Luís Fernando Veríssimo)

Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça e a sabedoria de só saber crescer até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar e só sirvo para uma coisa - que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.

Gostas de um som tempestade roque lenha muito heavy
Prefiro o barroco italiano e dos alemães o mais leve.
És vidrada no Lobo
eu sou mais albônico.
Tu, fão.
Eu, fônico.

És suculenta e selvagem como uma fruta do trópico
Eu já sequei e me resignei como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.

Gostas daquelas festas que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais em que sou pertinente e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.

És colorida, um pouco aérea, e só pensas em ti.
Sou meio cinzento, algo rasteiro, e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu, cano.
Eu, clidiano.

Dizes na cara o que te vem a cabeça com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras, escolho uma terceira e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu, tano.
Eu, femismo.

Na poesia de Veríssimo, onde os extremos são tratados como personalidades num relacionamento, temos um exemplo de que as coisas devem se compensar, os opostos ou extremos não só se atraem, como se completam, criam um novo conceito de verdade (posto que ela não é única), um novo ser (no caso, o 'nós') ou simplesmente dão-nos oportunidade de escolha.

2 comentários:

Moda Em Rodas disse...

Oi Mari, tudo bom?!
Muito bonitinho o poema. É como dizem, tem que existir diferenças pra surgir a atração.
B-jus!!

Marco Ariel Varela disse...

Acabo de descobrir o meu conceito de mulher inteligente.